quarta-feira, 2 de junho de 2010

Hospital/Nós

Está faltando óleo na máquina, o torrefador aqueceu mais de 100º, a tubulação X deu problema na válvula n. Engenharia é isso, lidar com máquinas, com processos, vai, substitui, da manutenção, resolve, pode demorar, mas resolve. É uma pena que a medicina não é assim. Tu lidas com vidas, sentimentos, emoções. Quer ter um intensivo de humanidade, é acompanhar uma área lotada de radioterapia, num vestiário masculino, onde aqueles homens em carne viva, costurados, carregando aparelhos que pingam química para o corpo através da tal de quimioterapia, durante até 5 dias seguidos ou mais, com bolsas de plástico para substituir os pedaços retirados do intestino. Enquanto isso a guria linda, de uns 14 anos, olhos verdes, comenta, dando para ouvir do vestiário masculino, que agora já se acostumou, só vomita durante a aplicação, e não mais o dia inteiro que nem antes, tão natural, como se tivesse entre amigas falando de uma cor nova de esmalte para as unhas; que os cabelos loiros foram substituídos por uma cicatriz de fora a fora, como se a cabeça fosse o zíper de uma calça. A descrição é forte, eu sei, mas não mais que o sentimento engasgado que tive por ver todo aquele sofrimento de tantas pessoas, e não poder fazer nada, só tentar fazer tudo pelo meu avô, e mesmo assim sem ter a certeza de que vai ser suficiente.