quarta-feira, 19 de julho de 2023
Café Tainhas
Aquele trajeto de Canela a São Chico. Nunca chorei tanto na vida. Instantes antes tinha decidido bloquear de volta, contato zero. Psiquiatra comentou que é o padrão. A estrada não era gatilho, era matéria prima, fábrica, logística do gatilho. Todas as outras vezes aquele trajeto era repleto de borboletas no estômago. Várias vezes passou na minha mente de parar em São Chico. Pensei, só para dizer eu te amo. Ou então pedir para me dizer que foi só um pesadelo, que me ama, que eu sou o homem da sua vida, que quer ter filhos comigo. Aí vem a realidade, que possivelmente me traía em sua vida paralela da cidade pequena. Que nunca me assumiu, que sempre foram migalhas. Que essas minhas lágrimas todas já estão inflacionadas, são só os juros. Não merece mais uma lágrima, não merece mais uma angústia. Vou catar minha armadura em algum lugar e voltar a ser eu, pleno, livre, cheio de amor para dar (aqui ouvindo barulho do mar).
sábado, 15 de julho de 2023
Festa, bebida e lágrimas
Copo de vodka com energético, segundo da noite, tá aqui ao lado dessa escrita que é terapêutica. Vir para a capital, intuito de fazer festas, fingir que está tudo bem, beber, beijar bocas desconhecidas, que o efeito do álcool faz esse beijo transcender como se fosse uma conexão real, mas na verdade não é, é só uma anestesia passageira. Segunda noite é pior, porque já está sob o efeito depressor do álcool da primeira noite. Um amigo que Pelotas e a nova vida trouxe, me levou para um lugar que eu jamais iria. Tal de Vitraux. Discurso sobre comunidade gay, sobre ser raiz, primeira festa gay de Porto Alegre, sobre ser de baixo de um viaduto e tudo o que isso representa. Mas ao mesmo tempo não me identifico, é aquele estereótipo da travesti que se prostitui na esquina, do gay que é cabeleireiro, parece que tudo concentrado no mesmo ambiente. Mas não sei se é só isso que me trás insatisfação ou se sobre os gatilhos e os dois choros da tarde relembrando, remoendo, emaranhado em lembranças que mais parecem expectativas que ganharam na loteria e se materializadas em realidades que a memória viveu e revive a todo instante. Doi, sangra, fica latente, pulsante.Daí precisava escrever para aliviar, olhar para o copo cheio e ter energia para voltar, volta a fingir que está tudo bem. Quando na verdade não está.
segunda-feira, 10 de julho de 2023
As lágrimas na rede
Deixei minha mãe lá no mesmo hospital do texto dos nós de mais de uma década atrás. Um nódulo que não se sabe o que é. Enquanto isso fui no coliving que morei por alguns meses. Onde aquele romance teve suas melhores cenas. Fui lá naquele espaço de convivência, deitei na rede, de repente vieram as memórias que parecia que tava revivendo, deitar os dois na rede, trocar beijos e abraços, conviver com a galera com uma amostra de vida que a gente que veio do armário é tão pouco exposto... As lágrimas foram inevitáveis. De repente chega uma nova moradora junto de um amigo. Fiquei com vergonha da minha vulnerabilidade ali exposta, sangrando. Mas a angústia era tão grande e o choro era a única fonte de alívio, que segui chorando igual. De repente ela some, e quando volta, me entrega um livro, um livro que dizia tudo aquilo que eu precisava ouvir, sobre mergulhar em si mesmo até curar. Poderia ter abraçado, poderia ter ouvido as lamúrias, mas aquele gesto do livro foi tão nobre, foi tão tudo o que eu tava precisando naquele momento...
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